segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Geometria Sagrada

" Já vos aconteceu, com certeza, lançardes uma pedra à água: a partir do ponto em que caiu a pedra, vêem-se ondas que se propagam em círculos concêntricos. Porventura vos detivestes a interpretar este fenómeno?... Aqueles que sabem decifrar o grande Livro da Natureza vêem nestas ondas circulares, que se desenvolvem a partir dum ponto central, um processo grandioso: toda a Criação do mundo expressa geometricamente.
Uma grande ciência, uma vasta filosofia está contida nesta figura. O círculo é o símbolo do Universo e o ponto representa o Ser Supremo que o sustenta e o anima. Reparai: o centro encontra-se a igual distância de todos os pontos da periferia e é por isso que ele mantém o círculo em equilíbrio. Entre o ponto central e a periferia fazem-se trocas constantes e essas trocas produzem a vida em todo o espaço do círculo. Toda a vida está lá e vibra, palpita, digere, elimina, respira, pensa…
Tomemos a imagem da roda. Vós direis que já vistes muitas rodas. Sim, eu sei, mas não passam de pálidos reflexos da primeira roda que pôs o mundo em movimento e à qual a Cabala chama Hokmah, a roda celeste. Toda a hierarquia angélica dos Ophanim, os Querubins, lá se encontra para fazer girar a roda do destino de todas as criaturas. No jogo do Tarot, é a décima carta que representa a roda. A décima carta do Tarot é uma roda que gira. Aliás, se se interpretar o número 10, verifica-se que o 0 é o círculo e o 1 o ponto central. Sim, o 1 é um ponto, pois que a projecção duma linha vertical sobre um plano horizontal dá um ponto. Portanto, temos o princípio masculino, o 1, o ponto central, e o princípio feminino, o 0, o círculo. E quando o 1 e o 0 se reúnem é a plenitude. Sem o 1, que é o princípio masculino ou o espírito, a matéria, o 0, não está organizada. Ela possui todas as riquezas, mas é o 1 que a organiza. Portanto, o 0 nunca deve estar só, senão será uma matéria desorganizada, um caos.
Está escrito no Génesis: “E o espírito de Deus movia-se sobre as águas”. O Espírito de Deus é o princípio masculino que penetrou a matéria, a “água”, para a vivificar e lhe dar forma. A água é o 0, o círculo, e o Espírito de Deus é o 1, o centro. Sem o Espírito que a anima, a matéria permaneceria informe – tohu va bohu, informe e vazia, como diz o Génesis; mas quando ela é aflorada, animada, trabalhada pelo espírito, todas as possibilidades que ela contém começam a manifestar-se e ela torna-se um mundo organizado, um universo habitado por sóis e constelações. O Universo é, pois, o 0, o círculo que já foi trabalhado, animado e organizado pelo espírito, o 1. Mas o 0 sem o 1 permanecia inerte, estagnado (…)
O ponto irradia, o seu movimento é rectilíneo; é esse o movimento da electricidade, do princípio masculino (o intelecto, o espírito). O movimento do magnetismo, do princípio feminino (o coração, a alma), pelo contrário é circular. Os raios repelem e dão, o círculo atrai e capta, recebe.
Para se manter o equilíbrio, ambos são necessários: há que ser, pois, um círculo com um ponto central. A alma e o coração são representados pelo círculo. O espírito e o intelecto são representados pelo raio que sai do ponto central. O ponto e o círculo são também o amor e a sabedoria. Aquele que só tem amor ainda não encontrou o ponto: está disperso por todo o lado. Aquele que tem somente a sabedoria é um ponto sem círculo à sua volta; é orgulhoso, está só, é como um chefe sem soldados, sem exército para comandar.
Os astrólogos representam o sol por um círculo com um ponto central, e podemos observar que esta figura se encontra por toda a natureza, desde o sistema solar até ao átomo.
Estudemos a célula: ela é composta por um núcleo, uma substância que circunda o núcleo, denominada citoplasma, e por uma membrana periférica. Pode dizer-se que o núcleo é o espírito; o citoplasma, o espaço onde circulam correntes, energias, é alma; e a membrana é o corpo físico, a casca. Reparai: na estrutura dum olho, dum fruto ou duma árvore, encontrais estas mesmas três divisões – o espírito, a alma e o corpo (…)
Os Iniciados, que compreenderam o poder deste símbolo, procuram, acima de tudo, introduzir esse ponto, o espírito, em si próprios. E todos nós também somos círculos que devem atrair esse ponto central, o Espírito Santo. Enquanto formos um círculo sem ponto, viveremos no vazio, insatisfeitos; mas no dia em que esse ponto, o espírito, vier instalar-se em nós, animar-nos, esclarecer-nos, viveremos na plenitude."

In A linguagem das figuras geométricas, Omraam Mikhael Aivanhov (1900-1986), Mestre búlgaro.

1 comentário:

  1. Interessante analogia e interpretação. Mais uma vez ficamos a pensar que nada acontece por acaso... havendo um propósito de perfeição, mesmo que não conhecido.
    beijinho de LUZ

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